quarta-feira, 26 de março de 2008

Dengue: a epidemia!

Nós últimos dias, os habitantes da Cidade do Rio de Janeito estão preocupados com o aumento no número de casos de dengue.

A dengue é uma doença tropical causada por um vírus da família Flaviridae e transmitida pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti. Os mosquitos depositam os seus ovos em águas paradas e têm hábitos diurnos.

A melhor forma de combate ao mosquito transmissor da doença é evitar o acúmulo de água em recipientes como garrafas, baldes, bacias, tambores de lixo, caixas d'água, entre outros.

O tratamento da doença é feito à base de muita hidratação e administração de medicamentos para diminuir os sintomas típicos dessa enfermidade, como febre, calafrios, dores no corpo, dores de cabeça, náuseas, etc.

Mas lembrem-se: a dengue tem sintomas parecidos com os de uma gripe; portanto, consultem o médico antes de tomar qualquer atitude, evitando, entre outros fatores, a automedicação!

Durante toda essa semana, o blog Biologia no Cotidiano trará matérias especiais a respeito da doença e, no domingo, uma bateria de questões sobre esse assunto tão comentado na mídia nos últimos dias!

Assista ao vídeo educativo sobre as medidas de combate ao mosquito transmissor da dengue, clicando no link abaixo:

http://br.youtube.com/watch?v=EtHa_cSpvBo

sábado, 15 de março de 2008

Introdução ao estudo do metabolismo





Para sobreviver, os seres humanos devem preencher dois requisitos metabólicos: ser capazes de sintetizar tudo que não é suprido pela dieta e de proteger o meio interno de toxinas e de condições variáveis no meio externo. Para preencher esses requisitos, os componentes dietéticos são metabolizados por meio de quatro tipos básicos de rotas: rotas oxidativas de substratos energéticos, rotas de armazenamento e mobilização de substratos energéticos, rotas biossintéticas e rotas de detoxicação e excreção de resíduos. Cooperação entre tecidos e respostas a alterações no meio externo são comunicadas através de rotas de transporte e rotas de sinalização intracelular.
Os alimentos da dieta são os substratos que fornecem energia na forma de calorias. Essa energia é utilizada para a realização de diversas funções, como movimento, pensamento e reprodução. Assim, algumas rotas metabólicas são rotas de oxidação de substratos energéticos, que convertem substratos energéticos em energia que pode ser utilizada para trabalho biossintético ou mecânico. Todavia, qual é a fonte de energia quando não estamos nos alimentando – entre as refeições e quando dormimos? Como alguém em greve de fome, que aparece nas manchetes dos jornais, sobrevive por tanto tempo? Existem outras rotas metabólicas que são rotas de armazenamento de substratos energéticos. Os substratos energéticos que são armazenados podem ser mobilizados durante períodos nos quais não estamos nos alimentando ou quando é necessário um aumento de energia para exercício.

Nossa dieta também contém os compostos que não podem ser sintetizados pelo corpo, bem como todos os blocos básicos de montagem para componentes que são sintetizados nas rotas biossintéticas. Por exemplo, há necessidades dietéticas de alguns aminoácidos, mas outros aminoácidos podem ser sintetizados a partir dos substratos energéticos e de um precursor de nitrogênio da dieta. Os compostos necessários na dieta para as rotas biossintéticas incluem certos aminoácidos, vitaminas e ácidos graxos essenciais.
Rotas de detoxicação e excreção de resíduos são rotas metabólicas dedicadas à remoção de toxinas que podem estar presentes na dieta ou no ar que respiramos, introduzidas no corpo como fármacos ou geradas internamente a partir do metabolismo de componentes da dieta. Os componentes da dieta que não têm valor para o corpo e devem ser descartados são chamados de xenobióticos.
Em geral, as rotas biossintéticas (incluindo armazenamento de substratos energéticos) são referidas como rotas anabólicas, isto é, rotas que sintetizam grandes moléculas a partir de componentes menores. A síntese de proteínas é um exemplo de uma rota anabólica. Rotas catabólicas são aquelas que quebram moléculas maiores em componentes menores. Rotas de oxidação de substratos energéticos são exemplos de rotas catabólicas.
Nos humanos, a necessidade de diferentes células realizarem diferentes funções resultou na especialização dos metabolismos celular e tecidual. Por exemplo, o tecido adiposo é um sítio especializado no armazenamento de gordura e contém as rotas metabólicas que lhe permitem realizar essa função. Contudo, ele não possui muitas das rotas que sintetizam compostos necessários a partir dos precursores da dieta. Para permitir que as células cooperem na obtenção de necessidades metabólicas durante condições variáveis de dieta, sono, atividade e saúde, são necessárias rotas de transporte no sangue entre tecidos e rotas de sinalização intracelular. Um meio de comunicação são os hormônios, os quais levam sinais sobre o estado dietético aos tecidos. Por exemplo, uma mensagem de que uma refeição acabou de ser feita, levada pelo hormônio insulina, sinaliza ao tecido adiposo para ele armazenar gordura.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Teoria Gaia: de idéia pseudocientífica a teoria respeitável


A teoria Gaia foi proposta na década de 1970 pelo cientista inglês James Lovelock, a partir de estudos realizados no começo da década de 1960 para a NASA, com o objetivo de detectar vida em outros planetas, especialmente Marte. Em parceria com a filósofa Dian Hitchcock, Lovelock buscou elaborar experimentos para a detecção de vida que fossem suficientemente gerais, ou seja, independentes do tipo de vida particular que surgiu na Terra. Desse modo, poderiam ser aplicados para a busca de qualquer forma de vida, mesmo que fosse significativamente diferente daquela encontrada na Terra. Um dos testes elaborados por Lovelock e Hitchcock consistia em comparar a composição química da atmosfera de outros planetas, como Marte e Vênus, com a da atmosfera terrestre. A base teórica do teste era simples: se um planeta não apresentasse vida, a composição química da sua atmosfera seria determinada apenas por processos físicos e químicos e, desse modo, deveria estar próxima ao estado de equilíbrio químico. Em contraste, a atmosfera de um planeta com vida apresentaria uma espécie de "assinatura" química característica, uma combinação especial de gases que indicaria uma atmosfera em estado de constante desequilíbrio químico. Esta assinatura seria o resultado da presença de organismos vivos, que usariam a atmosfera (assim como os oceanos, os solos etc.) como fontes de matéria-prima e depósitos para resíduos de seu metabolismo.
Ao analisarem as composições químicas das atmosferas de Marte e Vênus, Lovelock e Hitchcock chegaram à conclusão de que nossos vizinhos no Sistema Solar não possuem vida, uma vez que suas atmosferas se encontram em um estado muito próximo ao equilíbrio químico, sendo dominadas por dióxido de carbono (acima de 95%) e apresentando pouco oxigênio e nitrogênio e nenhum metano. Comparando-se as atmosferas de Marte e Vênus com a da Terra, diferenças significativas são encontradas em suas composições químicas. Nitrogênio (78%) e oxigênio (21%) são os gases dominantes na atmosfera terrestre, enquanto o dióxido de carbono contribui com apenas 0,03% (embora a ação antrópica esteja atualmente acarretando um aumento desses níveis). Além disso, a atmosfera terrestre possui vários outros gases, todos altamente reativos. Esta situação de instabilidade ou desequilíbrio se mantém na atmosfera terrestre há um longo tempo, o que não deve ser esperado, caso a composição química atmosférica resulte somente da ação de mecanismos físicos e químicos. De fato, essa composição atmosférica reflete a dinâmica de trocas gasosas entre a atmosfera terrestre e os organismos vivos. Ou seja, o que leva a atmosfera terrestre a ter uma composição química singularmente diferente daquela de Marte ou Vênus é simplesmente o fato trivial de que a Terra possui vida. Se toda a vida fosse eliminada do planeta repentinamente, as moléculas dos gases atmosféricos reagiriam entre si, o que resultaria numa atmosfera com a composição química muito próxima à de Marte ou Vênus. A atmosfera da Terra é, portanto, um produto biológico, sendo constantemente construída e consumida pelos seres vivos.
A partir desses resultados e, também, de evidências de que a temperatura do planeta Terra não sofreu alterações significativas nos últimos 3.3 bilhões de anos, Lovelock propôs a teoria Gaia. Esta teoria propõe a existência de um sistema cibernético de controle, que compreenderia a biosfera, a hidrosfera, a atmosfera, os solos e parte da crosta terrestre, e teria a capacidade de manter propriedades do ambiente, como a composição química e a temperatura, em estados adequados para a vida. Após apresentar sua teoria à comunidade científica, pela primeira vez, na carta, "Gaia as Seen Through the Atmosphere" (1972), publicada no periódico Atmospheric Environment, Lovelock a desenvolveu em artigos publicados em colaboração com a microbiologista Lynn Margulis. Nesses artigos, Lovelock e Margulis propuseram a existência de uma rede complexa de alças de retroalimentação que, em sua visão, relacionariam intimamente seres vivos e ambiente físico-químico, resultando numa auto-regulação do sistema planetário. Por meio desses mecanismos de controle, os seres vivos seriam capazes de alterar o ambiente de modo a manter as condições físico-químicas adequados para eles próprios.
Uma crítica importante à teoria Gaia tem como alvo a afirmação de que a vida na Terra busca condições adequadas para si mesma. Esta afirmação não define de maneira clara quais seriam essas condições adequadas ou os benefícios para a biosfera como um todo. Afinal, o que é bom para uma espécie pode ser ruim para outra. Como organismos com interesses divergentes, e até conflitantes, podem agir em sinergia para a produção de condições ótimas para o conjunto total de seres vivos sobre a Terra? Não há uma condição ou um conjunto de condições que sejam adequadas para os seres vivos como um todo. Por exemplo, enquanto os organismos aeróbicos precisam de oxigênio atmosférico para sobreviver, os anaeróbicos estritos tem seu crescimento inibido por esse gás. Lovelock não foi capaz de responder a essas críticas. Entretanto, mais recentemente, respostas interessantes foram propostas por alguns autores. Por exemplo, Axel Kleidon propôs, em 2002, que é possível definir alguns objetivos muito gerais que corresponderiam a condições adequadas para toda a biota, como, por exemplo, os aumentos da produtividade primária bruta, da diversidade ou da entropia do ambiente circunvizinho. Estes não seriam, portanto, benefícios para uma espécie em particular, mas para a biosfera como um todo.
Entre outros fatores, a falta de uma definição clara de termos centrais da teoria, associada ao uso, em alguns escritos de Lovelock, de uma linguagem muito vaga, aberta a interpretações e apropriações diversas, rendeu à teoria Gaia uma má reputação. Logo após sua proposição, ela não foi bem recebida por muitos cientistas, que a criticaram vigorosamente, chegando a acusá-la de ser pseudo- ou mesmo anti-científica. É interessante notar, no entanto, que algumas idéias de Lovelock despertaram uma reação entusiástica por parte de grupos ambientalistas e espiritualistas. Estes últimos se sentiam particularmente atraídos pelas polêmicas afirmações de Lovelock de que a Terra é viva. Ao longo da década de 1990, a resistência da comunidade científica à teoria Gaia diminuiu substancialmente, apesar das controversas afirmações de James Lovelock. Isso resultou da realização por Lovelock, em parceria com vários colaboradores, de uma grande quantidade de trabalhos, que, a partir da década de 1980, relataram novas evidências a favor de Gaia, desenvolveram modelos baseados na teoria e propuseram importantes modificações estruturais na mesma, além de apresentar uma maior preocupação em tornar mais claras as afirmações que a constituem. O modelo mais conhecido - o do mundo das margaridas (Daisyworld) - foi desenvolvido por Lovelock e Andrew Watson. Trata-se de um modelo matemático da regulação da temperatura planetária. Esse modelo parte da construção de um mundo fictício, que consiste em um planeta com aproximadamente o mesmo tamanho da Terra e ambiente reduzido a uma única variável, a temperatura. A biota do planeta, por sua vez, se limita a margaridas pretas e brancas. A temperatura média do planeta resulta do balanço entre o calor recebido da estrela ao redor da qual ele orbita e o calor perdido para o espaço na forma de radiação infravermelha. Lovelock e Watson demonstraram que a presença e variação na quantidade de margaridas pretas e brancas ao longo do tempo influenciam diretamente na regulação do calor recebido e perdido para o espaço, sendo fundamentais para a regulação e manutenção do clima desse planeta fictício.
Uma quantidade crescente de pesquisadores de diversos campos do conhecimento vem dedicando-se à articulação teórica e ao teste de previsões derivadas de Gaia. Atualmente, é possível encontrar uma verdadeira comunidade formada em torno de questões relativas à teoria Gaia, merecendo destaque nomes como Timothy Lenton, Tyler Volk, Axel Kleidon, Stephen Schneider, entre muitos outros. Provenientes de áreas diversas como Biologia Evolutiva, Biogeoquímica, Climatologia etc., eles constituem uma comunidade multidisciplinar vigorosa, que se ocupa de problemas teóricos e empíricos de importância central na teoria Gaia. Contudo, muitos deles rejeitam algumas das proposições iniciais de Lovelock, como a de que a Terra é um organismo vivo.
A teoria Gaia já deu contribuições importantes para a compreensão dos ciclos biogeoquímicos, das relações evolutivas entre organismos e ambiente, e até em estudos sobre o clima global. Um estudo empírico que utilizou a teoria Gaia como base e contribuiu para fortalecer a teoria de Lovelock se ocupou da relação entre algas oceânicas, que liberam o gás sulfeto de dimetila (DMS), e a formação de nuvens sobre os oceanos. As nuvens, por serem brancas, refletem boa parte da radiação solar que vem do espaço, esfriando a superfície oceânica e o planeta como um todo. A partir dessa constatação, Lovelock e colaboradores propuseram o que ficou conhecido como hipótese CLAW (pela junção dos nomes dos autores do artigo em que ela foi apresentada). Esta hipótese propõe que o resfriamento da superfície oceânica causado pelas nuvens leva a uma queda na liberação de DMS pelas algas, o que, por sua vez, reduz a taxa de formação das próprias nuvens. Isso permite que mais radiação solar atinja a superfície oceânica, o que, supostamente, causa maior liberação de DMS pelas algas, fechando assim o ciclo. Os autores da hipótese propõem, então, que há um mecanismo de controle do clima, baseado numa alça de retroalimentação negativa que conecta algas e nuvens ao resto da biosfera. Obviamente, outros organismos seriam também beneficiados por esse mecanismo, o que levanta a questão de se as algas estariam ou não agindo altruisticamente, de modo a contribuir para a regulação do clima global, beneficiando também outras espécies. Biólogos evolutivos freqüentemente têm criticado a teoria Gaia nesse ponto. Eles questionam como a competição entre os organismos poderia dar origem a um altruísmo em escala global, conforme proposto por essa teoria. Ou seja, por que razão as algas liberariam o DMS, se não fosse para seu próprio benefício. Os defensores da teoria Gaia respondem a estas críticas apresentando possíveis vantagens para as algas individuais, como a maior dispersão de esporos e maior oferta de alimentos, resultado da presença de mais nuvens sobre os oceanos. Apesar das polêmicas em torno da hipótese CLAW e da teoria Gaia como um todo, é importante notar que as investigações de Lovelock sobre o DMS levaram à criação de toda uma nova área de pesquisas, conhecida como "conexão algas-nuvens", na qual se avalia se a alça de retroalimentação proposta pela hipótese corresponde de fato a um mecanismo de controle do clima. Atualmente, a hipótese CLAW está sendo submetida a testes por muitos grupos de pesquisa ao redor do mundo.
Muitas críticas atuais à teoria Gaia estão dirigidas a afirmações controversas de Lovelock, como as de que "A Terra é viva" ou "Gaia é um superorganismo". Consideramos que essas afirmações devem ser evitadas, uma vez que uma série de problemas importantes surge quando as aceitamos. Em primeiro lugar, Lovelock não fornece uma justificativa teórica apropriada para a afirmação de que a Terra (ou Gaia) é viva. Os principais argumentos que oferece recorrem a analogias entre algumas propriedades dos organismos e da Terra, como a manutenção da ordem interna ao sistema graças ao aumento da entropia no ambiente circunvizinho. Entretanto, essa não é uma propriedade exclusiva dos sistemas vivos, caracterizando, antes, uma categoria mais ampla, que inclui os seres vivos, mas não se restringe a eles: a classe dos sistemas dissipativos, que também incluem, por exemplo, vórtices e chamas. É preciso notar, também, que parece haver mais diferenças do que semelhanças entre os organismos vivos e Gaia. Por exemplo, o conhecimento biológico trata os organismos, há mais de um século e meio, como partes de populações que evoluem por seleção natural, ainda que estejam sujeitas também a outros mecanismos evolutivos. Seres vivos, além disso, são capazes de se reproduzir, transmitindo material genético para seus descendentes. Gaia não forma populações, não evolui por seleção natural, não se reproduz, não deixa descendentes e não há indícios de que possua algo similar a um material genético. Até que ponto devemos deixar que algumas possíveis semelhanças entre Gaia e organismos nos seduzam, diante de tantas diferenças e da possibilidade das propriedades similares caracterizarem, no fundo, uma classe mais ampla de entidades, que incluem seres vivos, mas também Gaia?
Uma tendência atual tem sido estudar Gaia como um sistema cibernético, estudando suas propriedades emergentes, como a auto-regulação do clima. Desta perspectiva, os estudos têm enfocado o uso de modelos matemáticos derivados da vida artificial e da teoria da complexidade, com o objetivo de analisar as alças de retroalimentação que ligam, de acordo com a teoria, a vida ao ambiente físico-químico e seriam responsáveis pela capacidade de auto-regulação de Gaia. Desta perspectiva, Gaia não é considerada um organismo vivo, mas apenas um sistema complexo, o que julgamos ser muito mais apropriado.
Assim, é interessante notar que as pesquisas atuais sobre Gaia têm mudado o foco para questões que podem ser testadas empiricamente, evitando compromissos com proposições muito controversas, de difícil sustentação, como a de que a Terra (ou Gaia) é viva. A proposição de que a Terra é viva continua sendo mal vista pela maior parte da comunidade científica, por ser patentemente incompatível com conceitos centrais do pensamento biológico. Mas isso não torna os estudos atuais acerca de Gaia menos interessantes. Ao contrário, eles parecem altamente promissores, podendo contribuir significativamente para a investigação em campos de grande interesse e relevância social, como, por exemplo, os estudos sobre mudanças climáticas globais.
Autores: Nei de Freitas Nunes Neto, Marina de Lima-Tavares e Charbel Niño El-Hani. Pertencem ao Grupo de Pesquisa em História, Filosofia e Ensino de Ciências Biológicas, Instituto de Biologia, Universidade Federal da Bahia.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Você sabe o que é Diabulimia?


Diabulimia é um termo novo. “A definição foi criada em 2005 e caracteriza adolescentes ou adultos que objetivam controlar ou perder peso manipulando a dose de insulina. Este transtorno presente no paciente com diabetes é estudado desde a década de 80”, informa a Dra. Cláudia Pieper.
A diabulimia é uma desordem alimentar específica que afeta principalmente as pessoas com diabetes tipo 1. A manipulação da dose de insulina é um dos meios usados para perder peso. Quando as injeções de insulina são suspensas, o nível de açúcar no sangue fica elevado e as conseqüências são: boca seca, perda de peso, aumento do desejo de urinar e, como conseqüência mais grave, o quadro de cetoacidose diabética.
Isto pode ocorrer porque quem tem diabetes tipo 1 necessita de injeções contínuas de insulina. Sem ela no sangue, o corpo não pode utilizar os alimentos como fonte de energia e a maior parte das colorias ingeridas se perdem. Na falta da energia necessária, o organismo acaba utilizando suas reservas de gordura para produzi-la.
Além disso, a Dra. Cláudia Pieper, consultora do site da SBD, adverte que em adolescentes com diabulimia podem ocorrer também complicações crônicas mais precocemente, como, por exemplo, a retinopatia diabética, já que a hemoglobina glicada não consegue se manter dentro da meta.
A linha entre anorexia, bulimia e transtorno de compulsão alimentar periódica (TCAP) é muito tênue. Quem tem bulimia pode ter fases de anorexia. Pode ainda ser acometida por um desses transtornos antes mesmo de saber que tem diabetes. Como no caso de Ester, mãe de uma adolescente de 12 anos, que contou que, antes de ter diabetes, tinha bulimia. Ela convive com isso há 20 anos.
- Tomei consciência de que era uma pessoa doente há cerca de 3 anos. Percebi que, quando me olhava no espelho, via uma pessoa enorme de gorda, mesmo usando calça tamanho 34. Percebi que não poderia parar com a bulimia a hora que eu quisesse. Sim, porque eu estava como um viciado em drogas: comecei por "brincadeira", achando que poderia parar quando quisesse, mas me deparei com a triste realidade de que não era bem assim, relatou.
Já N., 20 anos, disse que tem fases: “Às vezes consigo parar de comer, quase completamente. Aí consumo, no máximo, 200 calorias por dia. Mas há períodos em que como muito. As 'fases' duram meses. Quando estou comendo muito tomo diurético e laxante e, claro, nem me preocupo com a taxa de açúcar no sangue. O problema é que o diurético provoca hiperglicemia, além do lado bom, que é desinchar”.

O Ideal de Beleza e o Preço

Elas são jovens e querem ser magras e belas. Suas referências são modelos e atrizes como: Gisele Bündchen, Adriana Lima, Paris Hilton e Yasmin Brunet. Na busca de atingir um ideal de beleza e perder peso, meninas e meninos podem desenvolver, além da diabulimia, complicações como anorexia, bulimia - transtornos alimentares que afetam especialmente adolescentes, a maioria mulheres.
P., 19 anos, diz: “Eu tenho bulimia e já tive anorexia. É muito difícil falar sobre isso. Quando me perguntam sobre a doença, respondo superficialmente, sempre com muita vergonha. Não sei mais o que fazer. Já procurei um psiquiatra, tomo vários remédios, mas a vontade de vomitar, a angústia, a sensação de culpa e o complexo de inferioridade insistem em me castigar. Ninguém sabe o que passo. A única forma de descarregar as minhas angústias, os meus medos, os meus fracassos é vomitando ou deixando de comer. Assim consigo passar por tudo isso, ser forte e bem aceita na sociedade”.
Relatos como esse são comuns entre as quase 100 comunidades criadas no Orkut para discutir os transtornos alimentares. Depois de conhecer um pouco de cada uma e acompanhar os tópicos de discussão, foi possível localizar jovens que aceitassem falar para esta reportagem. Algumas entrevistadas pediram para não serem identificadas.
Muitas meninas deixam claro que têm vergonha de admitir terem um transtorno alimentar, que o diálogo com os pais é difícil e uma das vias que encontram para compartilhar suas experiências e anseios é a internet. Essas adolescentes estão à procura da mesma coisa: ajuda.
De onde vem a busca incessante por um ideal de beleza e pela perda de peso? Para a Dra. Cláudia Pieper, existem alguns fatores que podem influenciar, como a existência de um núcleo familiar problemático, onde um dos filhos passa a ser “a válvula de escape” deste relacionamento do grupo, apresentando um transtorno alimentar. É claro que isso só ocorre quando existem fatores psicológicos predisponentes para tal. Uma mãe com compulsão alimentar, por exemplo, pode vir a ter uma filha anoréxica. Outros fatores importantes são a influência da mídia e dos amigos.

Das Novelas à Vida Real

Cobras & Largartos e Páginas da Vida, novelas da Rede Globo, estão abordando a questão dos transtornos alimentares. Na primeira, a personagem Júlia (Luiza Mariani), que é chef de um bistrô, tem anorexia. Em Páginas da Vida, a Anna (Deborah Evelyn) é uma professora do Ensino Médio, bailarina frustrada e mãe de comportamento compulsivo. Ela obriga a filha Giselle,10 anos, a freqüentar aulas de balé, tem pavor que a menina engorde e a vigia permanentemente.
O predomínio da imagem ideal da mulher magérrima vem se estabelecendo desde a década de 70. Em outras épocas, a mulher podia ser “cheinha”, a exemplo das retratadas pelo pintor colombiano Fernando Botero (1932). Nos lugares onde a comida era escassa, ser gordo indicava prosperidade. Uma mulher gordinha era associada a uma família rica, que possuía comida em abundância.
Hoje, as adolescentes com diabetes tipo 1 sofrem dupla pressão: devem cuidar do que comem por causa da disfunção e, por outro lado, têm a cobrança social e cultural, exigindo que elas estejam mais magras do que seu corpo permite.
O conselho da Dra. Claudia é que os transtornos alimentares devem ser tratados por uma equipe multidisciplinar: psicólogo, nutricionista, endocrinologista e psiquiatra. Mas não basta isso; é importante que a família se trate e faça terapia junto com os filhos.
“É válido que as novelas abordem o tema. Se as informações forem dadas corretamente, poderão ajudar os pais a procurarem ajuda profissional. Em 2006, houve aumento do número de jovens com transtornos. Dados da literatura internacional revelam que 16% dos jovens com diabetes, com idade entre 13 e 21 anos, têm algum tipo de transtorno alimentar e, portanto, dificuldade para controlar as glicemias. Em vez da busca pela beleza, deveria haver a busca pela saúde”, acrescentou a endocrinologista.

Texto extraído e adaptado a partir do site da Sociedade Brasileira de Diabetes.

Cientistas identificam gene "mafioso" que controla o câncer de mama


Não é sempre que um chefão da máfia ou do narcotráfico é preso ou leva uma bomba na cabeça. O mesmo acontece com genes ligados a doenças: nem sempre se consegue provar a sua culpa. Uma equipe de pesquisadores nos EUA identificou agora um gene capaz de controlar outros mil genes como se fosse um líder de gangue, e com isso promover o crescimento dos tumores de mama.
Mais grave ainda, o gene "mafioso", o SATB1, tem papel ativo na formação de outros focos de câncer no organismo – o processo chamado metástase, que é a causa de morte mais comum em pacientes da doença.
O estudo foi liderado pelos casal de pesquisadores Terumi Kohwi-Shigematsu e Yoshinori Kohwi, do Laboratório Lawrence Berkeley, da Universidade da Califórnia em Berkeley.
A descoberta pode servir tanto para criar diagnósticos mais precoces e precisos quanto para uma eventual terapia. "O SATB1 pode ser útil como alvo terapêutico na doença de mama com metástase", escrevem os autores em artigo na edição de hoje da revista "Nature".
Os cientistas também demonstraram em experimentos com camundongos que, depois de inativado o gene, também termina a proliferação alucinada das células tumorais.
O SATB1 e a proteína que ele codifica têm um papel normal num organismo sadio. Ele é uma espécie de "organizador" de outros genes, mas pode voltar esse talento para o "crime" e causar tumores agressivos que crescem e se espalham.
"Depois que o chefe do crime é retirado do contato com sua gangue – as células de mama tumorais –, essa comunidade retorna a ser uma comunidade sadia, não tendo mais a habilidade de se engajar em crime. Por isso é extremamente importante alvejar o SATB1", disse Kohwi-Shigematsu à Folha.
Segundo a pesquisadora, uma vez reprimido o gene, o câncer perde seu potencial de agressividade. "Mas é importante que o SATB1 seja mantido assim a longo prazo, para evitar que as células cancerosas voltem a se espalhar", afirmou.
O SATB1 é necessário quando células T do sistema imunológico (de defesa do organismo) são ativadas para produzir citocinas, substâncias que promovem a produção de anticorpos por outras células de defesa, as células B. Se o SATB1 for retirado de células T sadias, os pacientes sofrem problemas na sua reação imunológica.
"Só que nós descobrimos, inesperadamente, que ele se expressa em um subconjunto de células cancerosas e essas células ganham atividade de metástase. O SATB1 é, de fato, determinante para a metástase do câncer de mama", diz a cientista nascida no Japão.
Essa descoberta também modifica a maneira pela qual os cientistas compreendem a metástase, um processo de várias fases, desde a invasão das células tumorais em tecidos adjacentes até sua ida para a circulação e criação de um novo foco em outra parte do corpo.
Em geral, acreditava-se que as células metastáticas seriam raras e surgiriam em estágios finais da progressão do tumor a partir de mudanças genéticas. A novidade agora foi mostrar que há células em alguns tumores primários que já são predispostas à metástase e que a proteína SATB1 tem papel nisso.

RICARDO BONALUME NETO, da Folha de S.Paulo [13/03/2008, 08h35min]

quarta-feira, 12 de março de 2008

Biologia: uma ciência experimental

Sabemos que a ciência, nos dias atuais, é tida em alta conta: vem revestida de autoridade, credibilidade e respeito, não apenas no meio acadêmico, mas também na mídia e no mundo do trabalho. Uma das razões para isso é a popularização do termo método científico, que leva, se e quando utilizado, a resultados confiáveis. No entanto, é necessário começarmos o estudo da Biologia pela compreensão do significado desse termo.
A Biologia, como toda ciência, busca respostas e interpretações para o que ocorre na natureza, ou seja, os fatos. A própria palavra ciência deriva do latim e significa conhecer, saber. Essa busca do saber, do conhecer, entretanto, tem de ser feita com critério, e esse critério é o método científico.
Os cientistas são pessoas que fazem ciência e, como regra, têm grande capacidade de observação e grande desejo de saber o porquê das coisas. São, assim, grandes curiosos da natureza. Observar é fundamental para se fazer ciência. Eles começam suas investigações observando criticamente os fatos e fazendo perguntas sobre eles, buscando entendê-los. Depois de feita a pergunta, os cientistas procuram formular possíveis respostas: as hipóteses. Uma hipótese científica é formulada a partir de conhecimentos gerais disponíveis sobre o assunto. Formulada a hipótese, esta é testada a partir de experimentos controlados. Se a experiência confirmar a hipótese, esta é verdadeira. Caso contrário ela é refutada e criam-se outras hipóteses, passíveis de experimentação.
Em Biologia, assim como em outras áreas do conhecimento, uma hipótese para ter “força” tem de ser, obrigatoriamente, testada a partir de experimentos controlados, onde se utiliza um grupo experimental (grupo teste), aquele em que se promove uma alteração a ser testada, deixando todas as demais condições sem alteração, e um grupo controle, submetido às condições sem nenhuma alteração e que servirá de parâmetro para a análise dos resultados.
Trabalhos científicos devem ser escritos descrevendo fielmente procedimentos adotados e resultados obtidos, e apresentando discussões e conclusões fundamentadas.
Esses trabalhos devem ser publicados, propiciando ampla discussão na comunidade científica. Outros cientistas podem repetir os experimentos e verificar as hipóteses ou então, a partir das conclusões apresentadas, formular e testar outras hipóteses.
Se uma hipótese for confirmada a partir da evidência dos fatos, ela pode se tornar uma teoria, mas nunca uma verdade absoluta. Uma teoria pode ser mudada diante de novas descobertas. Uma teoria é um conjunto de conhecimentos mais amplos, que busca explicar fenômenos abrangentes da natureza, como é o caso da Teoria da Evolução criada por Charles Darwin.
É muito comum em ciência se falar em lei, que é a descrição da regularidade com que ocorrem as manifestações de uma classe de fenômenos. Um bom exemplo disso são as Leis de Mendel, formuladas a partir dos resultados provenientes da repetição de experimentos com ervilhas da espécie Pisum sativum.
Todo cientista, quando assume uma pesquisa, adota uma postura e segue uma conduta que caracteriza o método científico. Einstein comparou, certa vez, a conduta do cientista com a forma de proceder de um detetive. De fato, o cientista sempre segue os mesmos trâmites‚ que representam as etapas do método científico.
De uma forma geral, o método científico divide-se em várias etapas, facilitando o trabalho do pesquisador. São elas:

Observação de um determinado fato
Delimitação de um problema
Levantamento de hipóteses
Realização de experiências controladas
Análise dos resultados
Conclusões

Há três formas de se fazer ciência: métodos dedutivo, indutivo e hipotético-dedutivo.
Nas pesquisas científicas é comum se descobrirem “coisas” que não estavam ou não eram previstas nos resultados experimentais. A esses resultados ao acaso, dá-se o nome de Serendipty.

terça-feira, 11 de março de 2008

Uma segunda chance: se o aquecimento global causasse a extinção de espécies, as arqueas permaneceriam no planeta



A imprensa noticiou recentemente o diálogo entre duas pessoas preocupadas com o aquecimento global e com o destino da Terra। Uma expressou seu pessimismo dizendo que, se nenhuma providência enérgica fosse tomada imediatamente, o planeta acabaria। Tal previsão foi imediatamente contestada pela outra pessoa, para a qual o planeta continuaria a existir muito bem, mas certamente uma boa proporção dos seres vivos, entre eles a espécie humana, deixaria de existir! Independentemente de mudanças climáticas, o processo da evolução implica a extinção de espécies, o que ocorre a uma taxa relativamente constante. Acredita-se, por exemplo, que mais de 90% das espécies que viveram na Terra já estejam extintas. No entanto, não há dúvida de que uma alteração radical no ambiente, como a que se anuncia para as próximas décadas, produziria mudanças catastróficas e súbitas na biosfera. Haveria extinções em massa, semelhantes às ocorridas durante períodos de glaciação e de aquecimento do planeta, ou às que resultaram de colisões com asteróides gigantes, como parece ter ocorrido na península do Yucatán, no México. Esse evento é a base de uma das hipóteses para explicar a extinção dos dinossauros. Outra hipótese envolve vulcanismo intenso, concomitante com o choque do asteróide. Se de fato estivermos diante de uma catástrofe iminente, seria possível prever que espécies permanecerão na Terra? Definitivamente, sim। Embora tais palpites sempre sejam arriscados, em virtude da extensa rede de interações que se estabeleceu entre os seres vivos, pode-se arriscar uma ‘barbada’। Com quase toda certeza as arqueas, seres unicelulares em parte semelhantes às bactérias e em parte únicas, herdarão o planeta. Ou melhor, continuarão a existir aqui, como fazem há mais de 3,5 bilhões de anos, sem se importar com questões climáticas ou com as recentes ações deletérias dos humanos. Quem são esses seres especiais? São microrganismos que vivem em praticamente todos os ambientes terrestres e marinhos, na ausência de luz ou de oxigênio e por vezes sob altíssimas pressões e temperaturas. Entre as cerca de 90 espécies já catalogadas, descobriu-se que muitas arqueas conseguem viver em condições extremas, não toleradas por qualquer outro organismo. Ambientes de grande salinidade ou acidez, por exemplo, seriam considerados estéreis se não fosse a presença de arqueas halofílicas (que preferem sal ou ácido). Águas com temperatura próxima à do ponto de ebulição ou abaixo do ponto de congelamento são os ambientes prediletos de arqueas hipertermofílicas e psicrofílicas, respectivamente. Seus metabolismos estão perfeitamente ajustados a tais condições, o que reflete a grande plasticidade das proteínas que as compõem. As arqueas não param por aí. Com seus ‘superpoderes’, resistem ainda a enormes níveis de radioatividade, muito além dos que seriam letais para plantas e animais. A arquea Deinococcus radiodurans, por exemplo, é capaz, como o nome sugere, de regenerar seu DNA rapidamente após receber uma dose radioativa que reduz o genoma a pequenos fragmentos, e continua a viver e a se reproduzir como se nada tivesse acontecido. São conhecidos hoje tantos feitos das arqueas que é razoável admitir que elas poderiam colonizar ou ter colonizado qualquer planeta com condições similares às da Terra primitiva. O cenário marciano, por exemplo, parecido com o do deserto chileno de Atacama (o ambiente mais seco da Terra), poderia abrigar tais microrganismos em camadas do solo próximas à superfície, como ocorre em Atacama. Em breve saberemos. O conhecimento sobre as arqueas, porém, não deixa de ser reconfortante para o Homo sapiens। Podemos especular, sem muito medo de errar, que as arqueas foram as células que deram origem, na Terra, a todas as outras formas de vida. Diante de tamanha resistência, é certo também que, após a nossa extinção, as arqueas permanecerão neste planeta até que o Sol termine seu ciclo estelar, daqui a cerca de 5 bilhões de anos. Há, portanto, tempo suficiente para um novo ciclo de evolução, que teria, digamos, de 2 a 3 bilhões de anos. Se os caminhos evolutivos forem parecidos com os que conhecemos agora, talvez surja uma segunda versão humana. Quem sabe esta será mais ecológica?

Franklin Rumjanek. Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Artigo disponível em: www.ciencia.org.br (Revista Ciência Hoje, publicação do SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).

sábado, 8 de março de 2008

Para facilitar a transmissão e a absorção do conhecimento, os seres humanos dividiram o conhecimento em vários compartimentos, comumente chamados de disciplinas: comunicação e expressão, matemática, ciências, estudos sociais, artes, etc. - ou, alternativamente, português, matemática, física, química, biologia, história, geografia, artes, filosofia - para não mencionar sociologia, antropologia, economia, etc.
Essas formas de classificar o conhecimento são artificiais: raramente um problema se encaixa unicamente dentro dos limites de uma só disciplina.
Por isso, quando nos propomos a estudar problemas reais, em vez dos conteúdos geralmente demarcados para uma disciplina, acabamos tendo que adotar uma abordagem interdisciplinar. (Muitos autores preferem termos como multidisciplinar, transdisciplinar ou ainda outros - as nuances de sentido entre esses vários conceitos não são tão importantes aqui quanto o contraste entre uma abordagem disciplinar e uma abordagem que envolve várias disciplinas de forma integrada, que chamaremos de interdisciplinar, por ser este o termo mais comum).
Tomemos como exemplo o problema do meio ambiente.
Nosso meio ambiente contém componentes naturais, que normalmente são estudados pela física e pela química; possui também seres vivos, como plantas, animais e nós mesmos, seres humanos, estudados pela biologia; mas seres humanos também podem ser estudados pela psicologia e, como vivem em sociedade, pela sociologia; como nosso planeta tem uma história, a história precisa ser invocada; como seus territórios estão divididos em unidades geo-políticas, precisamos da geografia; e assim por diante. Dentre os fatores que ameaçam o nosso meio ambiente estão poluentes químicos inorgânicos e biológicos do ar, dos rios, da própria terra; desmatamento desregrado; uso de técnicas agrícolas impróprias; não-tratamento ou tratamento inadequado do lixo doméstico e industrial; crescimento populacional desordenado; consumismo desenfreado; e muitos outros.
É impossível estudar o meio ambiente e tomar as medidas corretivas que se impõem para que não destruamos a nossa Terra, dentro de uma abordagem puramente disciplinar: precisamos enfocar a questão de maneira interdisciplinar. Algumas questões serão equacionadas no âmbito das ciências naturais e biológicas, outras no nível das ciências comportamentais, ainda outras em decorrência da adoção de valores mais adequados. Como tratar desse problema de forma exclusivamente disciplinar? É preciso abordá-lo de uma forma integrada, que envolva várias disciplinas.
O mesmo é verdade acerca de quase todos os problemas interessantes que temos que enfrentar. É por isso que os chamados temas transversais se tornam importantes hoje: eles refletem uma tentativa de transcender os paradigmas disciplinares que têm imperado até hoje na educação escolar e de substituí-los por paradigmas temáticos, interdisciplinares.
“O vestibular da UFRN, ao longo dos anos, tem construído uma imagem de respeito e credibilidade junto à comunidade acadêmica e à sociedade. Suas provas estão pensadas para levar o candidato a confrontar-se com um conjunto de conteúdos indispensáveis para o início de um curso universitário. Nesse sentido, o vestibular procura avançar na perspectiva de um processo mais diagnóstico e avaliativo e não apenas seletivo, voltado apenas para classificar os mais “aptos”.
Em razão da importância que o vestibular da UFRN exerce no sistema de ensino do Rio Grande do Norte, considera-se que ele pode contribuir para elevar a qualidade do Ensino Médio, seja da rede pública ou da rede privada. É nessa perspectiva que o vestibular é considerado como indutor de conhecimentos, uma vez que suas provas exigem que os candidatos revelem conhecimentos e habilidades transversais tipo: saber usar diferentes linguagens; saber ler; argumentar, interpretar, analisar e escrever textos; ter domínio da língua culta; inferir, analisar e criticar gráficos e tabelas; elaborar cálculos básicos, entre outros” (Fonte: www.comperve.ufrn.br).
Baseando-se nas novas exigências impostas pelas bancas elaboradoras de exames vestibulares, o Projeto “Biologia no cotidiano” define-se como um ponto de apoio aos estudantes que estão se preparando para ingressar na universidade, seja a curto ou a longo prazo.