sexta-feira, 4 de abril de 2008

Dengue "mata às dezenas" no Rio, diz "Le Monde"


A dengue tem feito vítimas "às dezenas" e deixado urgências hospitalares "sobrecarregadas" no Rio de Janeiro, segundo uma reportagem publicada na edição desta sexta-feira do jornal francês Le Monde. O artigo mantém na agenda dos jornais estrangeiros a epidemia que já matou 67 pessoas na cidade. O argentino Clarín reporta inclusive estatísticas não-oficiais de que o número de pessoas afetadas é maior que o utilizado pelo governo.

"Mortes às dezenas, salas de urgências lotadas, médicos sobrecarregados: o Rio de Janeiro enfrenta sua pior epidemia de dengue dos últimos 50 anos", descreve o vespertino francês, afirmando que o alcance do problema obrigou as autoridades federais e locais a agir "tardiamente".

O jornal diz que a epidemia foi piorada pela "negligência" das autoridades. O Monde destaca que o governador Sérgio Cabral assumiu que houve "falhas" na prevenção da doença. Além disso, para o jornal, as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva representaram a admissão de "certa irresponsabilidade" em todos os níveis.
Tanto o Le Monde quanto o Clarín destacam que a "favelização" do Rio de Janeiro contribuiu para a disseminação da dengue.
O diário argentino diz que um estudo do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA-RJ) "não deixou dúvidas sobre as origens da epidemia". "Há uma única razão: os lixões em bairros marginais, morros ou planos, onde abundam os esgotos a céu aberto."
Segundo o jornal, atualmente há 60 mil casos registrados, mas "poderia ser que os números estejam mais próximos do milhão".

"A epidemia já não está só no Rio, a cidade mais vulnerável. Também afeta Belo Horizonte, Curitiba e várias províncias (Estados) do Nordeste, sobretudo a Bahia. Os corpos diplomáticos começam a se preocupar. Nas páginas oficiais das Embaixadas dos Estados Unidos, França e Portugal, já avisam sobre os riscos."
Matéria extraída de: www.folhaonline.com.br (acesso em 04/04/2008, às 13:50h).

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Dengue: mais do mesmo!

Apesar da epidemia de dengue que se dissemina em várias partes do país e da necessidade absoluta de eliminar os focos de criação do mosquito transmissor, não há razão para pânico. Embora muito desagradável, o curso da doença é autolimitado na quase totalidade dos casos. A dengue é causada por um arbovírus da família Flaviridae, transmitido de uma pessoa à outra através de um hospedeiro intermediário, o mosquito Aedes aegypti. Quando o mosquito pica uma pessoa infectada, o vírus se instala e se multiplica em suas glândulas salivares e intestino. A partir de então, o inseto permanece infectado pelo resto da vida (vive ao redor de 30 dias). Existem quatro tipos diferentes de vírus da dengue: sorotipos 1, 2, 3 e 4. Aedes aegypti é um mosquito peridoméstico, que se multiplica em depósitos de água parada, acumulada nos quintais e dentro das casas. Apesar da vida curta, o Aedes sp é voraz: pode picar uma pessoa a cada 20 ou 30 minutos. O mecanismo de sobrevivência do vírus, nos períodos entre uma epidemia e outra, é mal conhecido. Na Malásia e nos países do oeste da África, foram encontrados macacos infectados, verdadeiros reservatórios naturais da doença. A transmissão vertical, isto é, do mosquito-mãe para os filhos, também foi documentada. Os ovos do mosquito podem sobreviver um ano em ambiente seco, enquanto esperam a estação seguinte de chuvas para formar novas larvas. A grande maioria das infecções é assintomática. Calcula-se que em cada dez pessoas infectadas apenas uma ou duas fiquem doentes. Portanto, na hipótese de uma epidemia com 100 mil casos de dengue diagnosticados, existirão cerca de 1 milhão de infectados. Quando surgem, os sintomas costumam evoluir em obediência a três formas clínicas: dengue clássica, forma benigna, similar à gripe; dengue hemorrágica, mais grave, caracterizada por alterações da coagulação sanguínea; e a chamada síndrome do choque associado à dengue, forma raríssima, mas que pode levar à morte se não houver atendimento especializado. O período de incubação (da picada ao aparecimento dos sintomas) geralmente dura de 2 a 7 dias, mas pode chegar a 15 dias. A intensidade dos sintomas geralmente é mais leve nas crianças do que nos adultos. A doença é de instalação abrupta, indistinguível dos quadros gripais: febre intermitente de intensidade variável (que pode chegar a 39 graus e provocar calafrios), cefaléia, dores na região atrás dos olhos, nas costas, pernas e articulações. Muitos pacientes se queixam de dor ao movimentar os olhos, cansaço extremo e fraqueza muscular generalizada. Insônia, náuseas, perda de apetite, perversão do paladar e da sensibilidade da pele são freqüentes. Faringite e inflamação da mucosa nasal ocorrem em 25% dos casos.

Sintomas

Eritema (vermelhão da pele) pode surgir no primeiro ou segundo dia: a vermelhidão se instala no tronco e se espalha para os membros, poupando palmas das mãos e planta dos pés. Bradicardia (diminuição da freqüência dos batimentos do coração) é encontrada em 30 a 90% dos casos. A doença costuma ser bifásica: dois ou três dias depois de surgirem, os sintomas regridem e a febre cai. Outros dois ou três dias se passam e a sintomatologia retorna, geralmente menos intensa. O eritema fica mais nítido e surgem ínguas no pescoço, fossa supraclavicular e regiões inguinais. Em poucos dias, o eritema regride novamente e a pele chega a descamar. A apresentação bifásica pode não ser nítida, nem é obrigatória. As duas fases, juntas, duram de 5 a 7 dias, tipicamente, mas a doença pode deixar um rastro de fadiga e depressão que permanece por diversas semanas. Na forma hemorrágica, os sintomas são semelhantes, mas a doença é muito mais grave, por causa das alterações da coagulação sanguínea. Pequenos vasos podem sangrar na pele e nos órgãos internos, surgindo hemorragias nasais, gengivais, urinárias, gastrointestinais ou uterinas. Como o leito dos capilares se dilata, a pressão arterial pode baixar, dando origem à tontura, queda, choque e, em raríssimos casos, à morte. A fisiopatologia da dengue hemorrágica é mal conhecida. Uma das teorias parte do princípio de que ela esteja associada à infecção por cepas (linhagens) mais agressivas do vírus. A segunda pressupõe que já tenha havido uma primeira infecção inaparente pelo vírus, seguida de outra que provocaria reações imunológicas capazes de interferir com elementos essenciais do mecanismo de coagulação. O diagnóstico de certeza da dengue é laboratorial. Pode ser obtido por isolamento direto do vírus no sangue nos 3 a 5 dias iniciais da doença (fase de viremia) ou por exames de sangue para detectar anticorpos contra o vírus (testes sorológicos).

Recomendações

Não existem medicamentos antivirais para combater a dengue. O tratamento é apenas sintomático. Tomar muito líquido, para evitar desidratação, e utilizar antipiréticos e analgésicos, para aliviar os sintomas, são as medidas de rotina. Por interferir com a coagulação, medicamentos que contenham ácido acetilsalicílico (AAS, Aspirina, Buferin, Melhoral, Doril, etc.) estão formalmente contra indicados. Medicamentos à base de dipirona constituem boa opção para baixar a temperatura. A dengue é doença de curso benigno, mas nos casos da forma hemorrágica é fundamental procurar assistência médica.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Na mira do Aedes aegypti

Rajado de branco e preto, ele é o mesmo mosquito que transmite a febre amarela. A maneira mais eficiente de controlá-lo é eliminar seus criadouros, os famosos depósitos de águas paradas. Essas características do Aedes aegypti, transmissor da dengue, são conhecidas por boa parte da população brasileira.


Preocupada, no entanto, com a possibilidade de tais informações não estarem sendo assimiladas corretamente por moradores de cidades como o Rio de Janeiro, que atualmente enfrenta uma epidemia de dengue por conta, em parte, da não aplicação correta de medidas preventivas, a professora Hermione de Campos Bicudo, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), resolveu fazer sua parte.


Ela acaba de lançar o projeto Ação Comunitária para o Controle do Aedes aegypti, que tem como ferramenta principal uma página na internet, dentro do site do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce), em São José do Rio Preto (SP), onde Hermione leciona no Programa de Pós-Graduação em Genética.


Na página encontram-se, além de informações e curiosidades sobre o mosquito, métodos preventivos de baixo custo, como o uso da borra de café ou o sal fino de cozinha, duas alternativas para criadouros em potencial que não podem ser completamente eliminados.


“A idéia é contribuir para a formação de agentes multiplicadores, de todos os setores da sociedade, interessados em se engajar na tarefa de difundir por que e como devemos combater o Aedes aegypti. Damos foco na prevenção, pois, na fase adulta, o mosquito tem características biológicas que tornam seu combate muito mais difícil”, disse Hermione, que há 20 anos desenvolve pesquisas com o mosquito, à Agência FAPESP.


O site do projeto contém um abrangente texto didático, escrito com base em resultados de estudos feitos no instituto, com explicações sobre a biologia do mosquito, suas principais características, como ocorre a transmissão do vírus e as formas de desenvolvimento do inseto, processo que dura, em média, sete dias e abrange quatro fases: ovo, larva, pupa e adulto. Também descreve particularidades dos criadouros e estratégias para combatê-los.

Recurso visual

Uma apresentação em Power Point, que pode ser baixada por qualquer interessado, com diversas imagens e um resumo das informações do projeto, também está no site. O material ajuda a repassar os conceitos a outros interessados.


O site destaca que o Aedes aegypti, que tem uma vida útil de cerca de 40 dias, tem características que lhe conferem grandes vantagens para sobrevivência. Sabe-se que as fêmeas do mosquito botam os ovos em águas paradas, mas o grande problema, segundo a professora da Unesp, é que os ovos podem se desenvolver mesmo em pequenos recipientes, como uma tampinha de garrafa.


“Mesmo que a água da tampinha seque, os ovos podem permanecer vivos por até um ano. Se a tampinha voltar a encher, podem ser desenvolvidos naquele pequeno espaço até 300 ovos de uma mesma fêmea. Além do mosquito se esconder no meio de uma grande variedade de espécies de plantas, uma tampinha também é um criadouro em potencial. O ovo do mosquito tem o tamanho de um ponto feito por uma lapiseira em um papel”, explicou.


Diferente da febre amarela, que já conta com uma vacina para seu controle, para a dengue – inclusive para sua forma mais severa, a hemorrágica – ainda não há vacina e nem tratamento específico, o que faz com que o índice de mortalidade seja elevado. Em 2007, cerca de 500 mil pessoas tiveram a doença no Brasil e pelo menos 250 morreram de dengue hemorrágica.


“Este ano, no Rio de Janeiro, já foram registrados mais de 50 mortes ocasionadas pela doença, sendo a maioria de crianças. Calcula-se que sejam infectadas 75 pessoas por hora naquele Estado, o que fez com que o governo decretasse uma epidemia. Até o fim do ano passado, a doença não tinha chegado ao Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Mas, hoje, está presente em todos os Estados brasileiros”, disse.


Mais informações: www.ibilce.unesp.br/dengue